2009-03-20

"VIVER DO AMOR"


Às vezes, sou solidão e o amor é festa.
Às vezes, quero travesseiro
e edredom e o amor sugere uma orgia.
Às vezes, peço sashimi e
saquê e o amor prepara arroz-com-feijão.
Às vezes, tenho cansaço
e o amor transborda euforia. Às vezes,
sou mansidão e o amor é
tempestade. Às vezes, viro pedra e o amor é balão.
Às vezes,
dou risadas e o amor derrama lágrimas.
Às vezes, sou jiló e o
amor é mel. Às vezes, grito e o amor silencia.
Às vezes, sinto medo
e o amor é pura certeza.
Às vezes, sou chama e o amor é vento.
Eu, vice. E o amor, versa. É que, na verdade,
o amor não existe(calma!)
da maneira como fomos ensinados a desejá-lo:
perfeito,sereno, harmonioso, inteiro.
Quem quiser encontrar um assim vai
correr o risco de caminhar sozinho a vida toda,
sem saber que gostoso
mesmo é o que ele tem de inacabado,
imperfeito, inquieto, sempre à
espera de ser construído e moldado
pelas mãos que decidiram capturá-lo.
O amor não é igual para todo mundo.
Os sintomas podem ser parecidos
sim, porém as causas são sempre distintas.
Não há fórmula a ser seguida.
O amor não é receita de bolo, ainda que
alguns ingredientes - como respeito,
atenção, dedicação e sinceridade -
estejam sempre presentes nas histórias
felizes. No final das contas, amar é aceitar
o desafio de conviver com as
diferenças para enaltecer um ponto comum:
a maravilha de compartilhar
a presença do outro. Pode não ser fácil.
No entanto, é isso que leva à renovação,
ao encantamento e ao riso largo.


PS: Essa canção foi composta, primeiramente,
para o teatro, integrando
a trilha de “Ópera do Malandro”.
Em 1985, quando a peçavirou filme,
alguns versos foram alterados.
A versão acima é a do cinema.